27 março, 2013

NOTA DE REPÚDIO AO DESFILE DO ESTILISTA RONALDO FRAGA NA SPFW via Renatta VaiVai


(Modelos com peruca de palha de aço aguardam para desfilar pela grife Ronaldo Fraga – Andre Muzell/AgNews)



NOTA DE REPÚDIO AO DESFILE DO ESTILISTA RONALDO FRAGA NA SPFW
"A PERUCA DE BOMBRIL"
Estamos de olhos abertos, e nossa percepção chega a ser perfeita comparada à intensa exposição de novas formas de preconceitos encubados e fantasiados em supostas homenagens. Infelizmente os idealizadores de tais homenagens não sabem da existência de pessoas com a percepção livre dos padrões estéticos; os mesmos padrões que são transmitidos por um sistema global, onde tem a finalidade de oprimir a liberdade do natural e impor a beleza criada nesses “laboratórios” de marionetes alienadas e tão pouco preocupadas com a libertação de mentes presas na ideologia que se limita ao ato de estigmatizar, ironizar, e inferiorizar o que não esteja dentro do seu processo de “evolução estética”.
Nós do movimento NÃO PRECISO DE CADIVEU, iremos usar todas nossas formas de comunicação para disseminar a ideologia que repudia as atuais demonstrações de “homenagens” aos negros, aos cabelos afros e aos traços fenotípicos.
Após o desfile do estilista Ronaldo Fraga, na São Paulo Fashion Week, nessa terça-feira 19, surgiu milhares de críticas na internet, acusações de racismo e preconceito, causando um ar de questionamento sobre o significado das perucas feitas de palha de aço (Bombril) utilizadas pelas modelos no desfile.

A Revista Marie Claire publicou uma matéria nesta quarta-feira, com argumentações estratégicas, como “A palha de aço na cabeça nada mais foi do que um recurso estético, uma licença poética, um apelo estilístico. Os detratores de Ronaldo Fraga, provavelmente, não entendem nem de arte e nem de negros”.
Na mesma matéria o maquiador Marcos Costa, responsável pelas perucas nas modelos se defendeu dos comentários críticos com a seguinte frase: “Nunca foi uma homenagem aos negros” “Se a gente tivesse usado só loira de cabelo liso, como todo mundo faz, ninguém falaria que somos racistas”.
Ronaldo comentou sobre a polêmica e declarou para a revista, "Eu estou assustado com a repercussão porque eu sou mestiço, neto de descendente de escravos e filho de pai mulato jogador de futebol".

Entre as críticas e os esclarecimentos dos responsáveis pela ideia, fica os comentários em ênfase, "Meu cabelo e dos meus familiares não são daquele jeito, honestamente ninguém tem cabelo bombril" ou "Gente, e esse cabelo que Ronaldo Fraga criou, extremo mau gosto para caracterizar os negros". E a partir daí podemos tirar nossas conclusões.
O movimento Não preciso de cadiveu concorda que o desfile foi ousado ao ponto de causar polêmicas e acusações de racismo. Mas partindo da analise técnica do desfile, observamos que não há modelos pintadas, há modelos negras e brancas, a etnia e cor de pele não modificou a ideia do desfile e não mudou seu “roteiro”, todas as modelos independente da cor, desfilou com a peruca de palha de aço.
Mas para onde foram direcionadas as críticas?
José Jorge de Carvalho cita em seu artigo - Racismo fenotípico e estéticas da segunda pele... “Os seres humanos que classificamos como caucasianos, isto é, de pele clara, olhos claros, cabelos lisos e narizes finos - enfim, os “brancos” ocidentais, europeus em geral e muito particularmente os anglo-saxões - definiram um padrão de valor e beleza para toda a espécie humana e o impuseram (antes a ferro e fogo e atualmente através da indústria cultural e do controle político e financeiro) a todo o resto do mundo.” A partir dessa ideia temos os dois lados ideológicos.

Ronaldo declara na revista Marie Claire ser mestiço, portanto poderíamos impor esse texto como argumento para sua atitude?
Sim poderíamos, pois Ronaldo e os demais responsáveis pelas perucas utilizadas no desfile estão sobre comando de uma indústria cultural, a mesma citada por José Jorge De Carvalho; essa indústria cultural utiliza códigos imperceptíveis para passar mensagens de caráter subliminar, reforçando o tradicional não-dito, “o cabelo de bombril”.

Não será nenhuma revista associada à moda, e muito menos um estilista escravo da mesma, que saberá nos explicar sobre a mensagem que foi passada pelas perucas de Bombril. Pois pessoas envolvidas na indústria cultural e no controle político e financeiro nunca estarão habitas a enxergar por nós.
O que observamos faz parte de um conhecimento adquirido apenas por nós mesmos, sem influências. O que vemos é resultado do que já vivemos, já vimos, ouvimos e sofremos. Ninguém pode mudar nossa concepção do que é preconceito ou racismo, porque não há ninguém mais habito a falar sobre o preconceito que nós mesmos.

O presidente da ONG Educafro (Educação e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes), Frei David, também criticou a ideia na conversa com o site da VEJA.
“Para nós, esse estilista Ronaldo Fraga foi bem intencionado, mas mal assessorado. Os racistas vão no elemento comum, recurso muito usado por pessoas racistas, de comparar o cabelo de negro com a palha de aço. Esse recurso é delicado, pois todos os racistas o usam maldosamente. No contexto do desfile, deu para notar que ele não quis ofender, ele quis prestar uma homenagem, mas usou um elemento simbólico do mundo dos racistas para provocar a comunidade negra. Esperamos que ele reconheça o equívoco e peça desculpas, comparecendo em uma reunião da Educafro”, afirmou Frei David.

Enquanto o presidente Frei David falava com o site de VEJA Ronaldo Fraga e o cabelereiro responsável pelo desfile do estilista na SPFW, Marcos Costa, foram ao Facebook justificar o penteado.
“O meu desfile é uma crítica ao racismo e ao preconceito que respinga até os dias de hoje. Em nenhum momento falo em homenagem. Voltei para um tempo em que o futebol, o tema que escolhi para esta coleção, deixava de ser um esporte exclusivamente branco, de elite, para se ajoelhar diante da ginga, da dança que os negros emprestavam da capoeira pra driblar o time adversário. Tomei como objeto de pesquisa este esporte como formação de identidade, de costumes e da história brasileira. Procurei, como em outras coleções, fazer uma análise crítica e analítica sobre a influência e apropriação do futebol pelo brasileiro”, escreveu Fraga em comunicado divulgado por sua assessoria de imprensa no Facebook.

Diferentes ideias e argumentos, porém, o mesmo contexto. Reforçar a piadinha que muitos de nós já ouvimos, “cabelo de bombril”.
Sugerimos a quem queira criticar o racismo novamente, que tome cuidado e lembre-se que não há só a visão etnocentrista, que as ideologias entram em constante discussão por conta dessa falta de visão diversificada. Sugerimos também que na próxima tentativa de critica ao racismo em desfiles de moda, analisem se a própria critica não está enfatizando o racismo aos olhos carregados de preconceito de quem está assistindo.
Com certeza a intenção de Ronaldo Fraga não foi ter um desfile racista, mas sua falta de percepção diagnóstica do preconceito na sociedade fez com que sua crítica se transformasse em brincadeiras sobre o penteado de “cabelo bombril” que as modelos exibiram em seu desfile. Incentivando indiretamente o racismo.

Assinam o presente os coletivos:
3- Musas do Samba 
5- Entre Luma e Frida http://entrelumaefrida.com.br/
10- Cartazes & Tirinhas LGBThttps://www.facebook.com/CartazesLgbt
12- O preconceito que você não vêhttps://www.facebook.com/OPreconceitoQueVoceNaoVe



Renatta VaiVai
Sou representante do movimento web Não preciso de cadiveu (https://www.facebook.com/NaoPrecisoDeCadiveu)