25 março, 2013

As letras vivas de Andreas Scheiger


Andreas Scheiger é um artista talentoso, com um trabalho no mínimo peculiar. Na sua perspetiva, as letras são organismos vivos, dignos de estudo e classificação taxonômica e podemos conhecer a fundo o seu processo evolutivo, a partir das suas esculturas, onde encontramos letras fossilizadas, dissecadas, conservadas em âmbar ou em frascos de formol.
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© Andreas Scheiter, “The Evolution Of Type”.

Tudo começou com o livro “The Alphabet and Elements of Lettering” de Frederic W. Goudy (famoso desenhador de fontes como Copperplate Gothic, Kennerly e Goudy Old Style). Goudy inspirou Scheiger com sua ideia de que as letras eram um registo da História e do desenvolvimento humanos, possuindo uma forma orgânica. Deixando-se levar por essa premissa, Scheiger interpretou as letras como organismos, provenientes de diferentes espécies consoante a sua fonte. Em esculturas de um realismo impressionante, deu asas à imaginação e criou letras de carne e osso, com veias e elementos evolutivos encontrados em várias espécies conhecidas. Nasceu assim o aclamado projeto “The Evolution of Type” (“A Evolução do Tipo”).
Para os apaixonados por tipografia torna-se de certa maneira fascinante esta linha de pensamento, pois quando se pensa em criar uma fonte observam-se detalhes intimamente relacionados com o seu formato, a espessura e a inclinação dos traços, o modo como as letras interagem entre si, o seu comportamento quando escaladas e muito mais, mas Scheiger propõe um raciocínio completamente diferente. Como é a estrutura óssea de um C, que músculos sustentam um B, onde está o coração que faz pulsar as veias de um A? De onde nasceu esse C, esse B, esse A? Como se reproduz, como eram os seus antepassados pré-históricos e em que estado de preservação chegaram até nós para que possamos aprender mais sobre o nosso alfabeto? Perguntas diferentes, estas, que nos fazem parar um pouco no nosso quotidiano agitado e refletir um instante sobre um mundo diferente, em que as letras são seres vivos, de corações pulsantes. Teriam mais valor as palavras?
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© Andreas Scheiter, “The Evolution Of Type”.

A descontextualização das letras para este ambiente científico da era vitoriana permite-nos um olhar mais atento para o alfabeto, como se o enaltecesse, lhe desse o peso da matéria viva, aguçando a curiosidade de querer saber mais, levantar a pele de cada letra e conhecer o seu interior. Metáfora de Goudy sobre o impacto do alfabeto escrito na História da humanidade, que nos faz analisar com mais atenção este pilar da evolução que tomamos como um dado adquirido.
Pelas mãos precisas de Scheiger nasceu uma variedade de esculturas, construídas com materiais tão curiosos como as peças em si mesmas. Ossos de galinha, folhas secas, ramos de árvore, plasticina, barro, resina e madeira são apenas alguns dos materiais usados na construção das letras que, invariavelmente, são pretas, por ser esta a sua cor natural, segundo o autor. Este partilha o processo de construção das esculturas no seu blog, para quem ficou com vontade de ver mais do que o trabalho acabado. Um olhar por detrás do pano para a criação real destas letras de fantasia.
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© Andreas Scheiter, “The Evolution Of Type”.

Desde cedo apaixonado por trabalhos manuais, escultura, desenho e pintura, Scheiger destacou-se logo na escola, onde os professores lhe pediram que ilustrasse o jornal escolar. A esta primeira tarefa seguiu-se o papel de ilustrador principal na mais importante revista de estudantes da Áustria, país onde vive e trabalha, que posteriormente levou a novas propostas, tendo trabalhado como designer gráfico e diretor de arte em publicidade.
É através da combinação da sua paixão com a sua experiência profissional que cria projetos tão criativos e interessantes, num experimentar constante de materiais e estilos. Segundo Scheiger, “em todos os seus trabalhos, aspira criar impacto visual ao simplificar um conceito complexo”.
Descubra mais sobre este peculiar artista no seu “Laboratório Gráfico”.
© Andreas Scheiter, “The Evolution Of Type”.

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© Andreas Scheiter, “The Evolution Of Type”.

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© Andreas Scheiter, “The Evolution Of Type”.

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© Andreas Scheiter, “The Evolution Of Type”.

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© Andreas Scheiter, “The Evolution Of Type”.

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© Andreas Scheiter, “The Evolution Of Type”.

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© Andreas Scheiter, “The Evolution Of Type”.

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© Andreas Scheiter, “The Evolution Of Type”.

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© Andreas Scheiter, “The Evolution Of Type”.

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© Andreas Scheiter, “The Evolution Of Type”.


De: "Pavablog" <news@pavazine.com>

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