14 março, 2013

A POLÊMICA CAPA DO LP "EU NÃO SOU SANTO", DE BEZERRA DA SILVA, 1990


José Bezerra da Silva nasceu em Recife e mudou-se para o Rio de Janeiro aos 15 anos fugindo da fome, apenas com a roupa do corpo. Fez a viagem num navio que carregava açúcar.

Durante sete anos viveu como mendigo nas ruas de Copacabana, onde inclusive tentou suicídio, mas foi salvo por um Santo da Umbanda, onde se tornou um praticante até ingressar na Igreja Evangélica. Passou então a trabalhar na construção civil como pintor de paredes e tinha como endereço a obra no centro da cidade onde exercia sua profissão. 

Iniciado na música por Jackson do Pandeiro, Bezerra estudou violão clássico por oito anos e passou outros oito anos tocando na orquestra da TV Globo. Era um dos poucos partideiros que lia música.

Como ele próprio explica, sua ligação com o mundo musical se deu por causa do "medo da fome", onde a única saída que tinha era "lutar por dias melhores", pois "tinha dias que trabalhava e não comia". 

Cantor e compositor de veia ácida, Bezerra fazia duras críticas contra as injustiças sociais. Suas músicas eram quase sempre de outros compositores, em parcerias que ele cultivava há muitos anos. Nas letras dos sambas desses compositores se expressam os conflitos sociais de uma população marginalizada. Tudo através de uma ótica bem humorada, mas também áspera. São letras com palavras duras, de uma gente lutadora e inconformada.

Bezerra não gostava que o chamassem de pagodeiro, pois dizia que "quando a música é feita por pobre, analfabeto ou crioulo, eles dizem que é pagode. Eu não aceito isso!".

Apesar de ser um campeão de vendas (seus mais de 25 discos já venderam aproximadamente três milhões de cópias), Bezerra da Silva foi sempre excluído da grande mídia.

Em 2001 retornou à Igreja Universal do Reino de Deus e em 2003 gravou um CD com músicas gospel. Em 2005, perto da morte, mas ainda em plena atividade, participou de composições com Planet Hemp, O Rappa, Velhas Virgens e outros nomes da MPB.

Bezerra morreu na manhã de segunda-feira, dia 17 de janeiro de 2005 aos 77 anos, depois de sofrer uma parada cardíaca. O curioso desta data é que Bezerra, quando morresse, queria que não fosse numa sexta-feira ou feriado, para não atrapalhar a praia dos amigos. E morreu numa segunda-feira - ou seja, depois do fim-de-semana, e a data da sua morte forma o número 171 (17/1).

Considerado o embaixador dos morros e favelas, cantou sobre os problemas sociais encontrados dentro das comunidades, se apresentando no limite da marginalidade e da indústria musical.

É considerado também um dos principais expoentes do samba do estilo partido alto. Os principais temas de suas canções foram a vida do povo e os problemas da sociedade e das favelas, como a exploração e a opressão sofridas pelos trabalhadores, a malandragem e ladrões à margem da lei, a questão do uso de drogas como a maconha e a condenação à caguetagem (delação de companheiros). Esta última temática refere-se a uma das principais estratégias de sobrevivência onde a "malandragem" exerce influência e medo para que os moradores destas localidades não os delatem aos órgãos do Estado. 

Reflexos de uma sociedade sob um estado incapaz de garantir a segurança da população, que precisa apelar para a segurança oferecida por traficantes, pois os indivíduos de fora deste grupo social os tem como inimigos. Concluindo-se assim, que não são os moradores do morro que fomentam a guerra, apenas defendem-se como podem.

De: Musicaria Brasil < brunonegromonte@gmail.com >
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