08 março, 2013

A maldição de Noé, a África e os negros




1) Sempre digo que eles interpretam a bíblia a seu bel prazer... o que é conveniente...
2) Existe expressões aqui no Brasil, que são usadas em determinadas regiões e nas outras tem outro significado ou nunca ouviram/usam tais. Imagina a tradução de outra língua. Então, expressões ditas até quando nem o registro das palavras existiam, JC (Jesus Cristo) o mais novo na história do livro, não escreveu nada...os livros que dele falam foram escritos anos depois que ele foi crucificado, hoje e aqui tem outro significado ou importância. Em Portugal diz: pega o rabo da bicha.... lá significa pega o fim da fila...aqui...já "maldaram"... Lá também, a palavra bOceta é uma caixa de madeira.  Falamos do país da nossa  língua mãe. 

Significado de Boceta

s.f. Pronuncia-se: /bocêta/. Pequena caixa redonda, oval e alongada, fabricada com o intuito de armazenar diversos objetos e/ou coisas: uma boceta de joias.
Caixa de rapé; caixa para guardar tabaco em pó.
Tipo de bolsa feita em borracha utilizada para armazenar tabaco.
Peixes. Determinado aparelho de pesca.
Brasil. Vulgar. Designação vulgar de vagina, vulva.
(Etm. do latim: buxis.idis, pelo francês: boîte)




E, essa expressão já era usada nos tempos AC:

Pandora abre a caixa dada a ela por Zeus, assim libertando todos os males do mundo
Caixa de Pandora, também conhecida como Boceta de Pandora, é um artefato damitologia grega, tirada do mito da criação de Pandora, que foi a primeira mulher criada por Zeus. A "caixa" era na verdade um grande jarro dado a Pandora, que continha todos os males do mundo.
Então Pandora, com sua curiosidade, abriu o frasco, todo o seu conteúdo, exceto um item, foi liberado para o mundo. O item remanescente foi a esperança.
Hoje em dia, abrir uma "caixa de Pandora" significa criar um mal que não pode ser desfeito.


Eu tenho uma na minha estante, que meu tio deu para Mamis quando ela ficou noiva, e Eu brinco quando alguém pede algo que está dentro dela, mandando pegar na minha.... e já digo: falo o português da pátria mãe....

Para Ler a bíblia tem que ter o minimo de Cultura para entender os significados. Cultura até para saber que os donos da igreja católica, reuniram-se e retirar vários livros dela. 

3) a própria bíblia, principalmente no velho testamento, o que menos pregava era o Amor. Pela Lei de Moisés, adultera tinha que Ser apedrejada em Praça pública. A expressão "atire a primeira pedra" vem do episódio de JC Salvando a adultera de tal castigo, mandando quem não tivesse nenhum pecado, que atirasse a 1a pedra nela.
E Noé, "salva" o mundo e amaldiçoa o neto.... 

Por isso, prefiro e prefiram os que não se escondem atrás de nada e ninguém. Não critiquem quem não tem Fé em nenhuma religião, mesmo discordando dela. Pelo menos, agem/falam do que sentem e não decoram um texto e repetem.
Respeito todos que tenham uma Fé/religião. 
Desprezo todos que usam essa Fé para Enriquecer.


Geração Invencível....
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Posted: 06 Mar 2013 07:21 AM PST
Há muita coisa a lamentar sobre a eleição de Marco Feliciano para presidir a Comissão de Direitos Humanos da Câmara, e muitas críticas pertinentes estão sendo feitas por gente muito mais preparada do que eu para debater a fundo a miséria da política brasileira. Da parte que me toca, o que realmente chama a atenção é o uso que o deputado-pastor (ou pastor-deputado) fez do desfecho da narrativa bíblica do Dilúvio para "explicar" os problemas atuais do continente africano e o racismo que sofrem os povos de etnia africana.

O Dilúvio bíblico é, como imagino que todo mundo que se interessa pelo assunto sabe, um "fanfic" baseado na história, inserida no Épico de Gilgamesh, de Utnaphistim, o homem que sobreviveu ao dilúvio universal provocado pelos deuses e que acabou premiado com a imortalidade.

O que menos gente talvez saiba é que a narrativa bíblica, tal como aparece no capítulo 7 do Gênese, é na verdade uma fusão de duas versões conflitantes: numa delas, Noé leva um par de cada espécie de animal para a Arca; em outra, ele leva um par de cada espécie "impura", e sete pares de espécies "puras", aparentemente para ter uma sobra para realizar sacrifícios.

Também há o problema da duração do dilúvio: o verso 17 diz que foram 40 dias, mas o verso 24 diz que foram 150 dias. De acordo com Robert Alter, autor da tradução comentada The Five Books of Moses, o editor original do texto tentou harmonizar as duas versões, "mas tensões permanecem". Uma interpretação caridosa da questão 40/150 é a de que teria chovido por 40 dias, mas as águas teriam levado outros 150 (ou 110?) para baixar.

Essa questão de "editor original" e "diferentes versões" talvez requeira esclarecimento. Os cinco primeiros livros da Bíblia -- Gênese, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio -- são conhecidos coletivamente como Pentateuco, e sua autoria é, tradicionalmente, atribuída a Moisés. Agora, há sérias dúvidas sobre se Moisés sequer teria existido (mais detalhes no meu Livro dos Milagres), quanto mais se teria tido condições de escrever cinco livros onde, entre outras coisas, são narrados sua morte e sepultamento.

A ideia mais aceita hoje, entre estudiosos que não têm uma agenda sectária para defender, é a de que os livros foram escritos por pelo menos quatro diferentes autores -- ou grupos de autores, cada grupo partilhando de uma ideologia e de uma teologia particular -- e os textos posteriormente fundidos por um redator ou editor. Contradições e conflitos são fruto do choque entre as fontes.

Bom, mas o que o Dilúvio tem a ver com a África e o racismo? O caso tem a ver com um dos mais persistentes enigmas da Bíblia, a maldição lançada por Noé sobre o neto, Canaã.

O motivo do autor para fazer Noé amaldiçoar Canaã parece bem óbvio: israelitas e caananitas eram povos inimigos, e ter o patriarca mítico dos caananitas amaldiçoado pelo (re)fundador da raça humana era uma mão na roda, em termos de propaganda política. A associação entre Cão (pai de Canaã) e a raça negra, no entanto, serviu a uma motivação política que vem de fora do contexto bíblico: justificar a escravidão dos negros pelos europeus. Ela foi um argumento forte, principalmente, entre os povos protestantes de língua inglesa e, mais ainda, no sul escravocrata dos EUA pré-guerra civil.
Como escreve David Goldenberg em The Curse of Ham: Race and Slavery in Early Judaism, Christianity, and Islam, "obviamente o texto bíblico não descreve ninguém como negro", mas "todos presumiam que Ham [uma transliteração alternativa do nome Cão] era negro e tinha sido afetado, de algum modo, pela maldição da escravidão. Não importava se a pessoa era a favor ou contra a instituição da escravidão do negro, ou se a pessoa era negra ou não; todo mundo, nos EUA do século 19, parecia acreditar na verdade da negritude de Ham".

A associação entre Cão (ou Ham) e a negritude, na mente europeia e, depois, americana, vem de uma peça de etimologia: pelo menos desde o século 18 que autores como o monge beneditino Augustin Calmet, famoso por ter escrito um tratado sobre vampiros na Europa Oriental que acabou devidamente esculhambado por Voltaire, diziam que o hebraico "ham" significava "queimado" ou "escuro". E a África é um continente  quente, e os povos de lá têm pele escura... Outra possibilidade, aventada ao longo dos séculos, seria a de "ham" representar uma corruptela do nome antigo do Egito ("Khem") ou uma raiz que significa "servo". Mas, depois de uma longa análise filológica, Goldenberg conclui que a etimologia precisa do nome ainda está em aberto, e afirma:

"Uma coisa, no entanto, fica absolutamente clara. O nome Ham [Cão] não tem relação nenhuma com qualquer palavra hebraica ou semítica significando "escuro", "preto" ou "calor", ou com a palavra egípcia para "Egito". Para os antigos hebreus, portanto, Ham não representava o pai da África quente e negra, e não há nenhuma indicação, no relato bíblico, de que Deus quisesse condenar os povos de pele  escura à escravidão".

O que nos deixa com a sugestão de que a bancada evangélica deveria atualizar suas fontes de exegese.

Mas o maior enigma da história da maldição de Canaã é: por quê? O que o pai de Canaã, Cão/Ham, fez de errado, e por que a maldição recaiu sobre seu filho, Canaã, e não sobre ele? Aqui, como dizia o Dr. Watson, a trama se complica.

Os versículos sobre a maldição são os seguintes:

E viu Cão, o pai de Canaã, a nudez do seu pai, e fê-lo saber a ambos seus irmãos no lado de fora. / Então tomaram Sem e Jafé uma capa, e puseram-na sobre ambos os seus ombros, e indo virados para trás, cobriram a nudez do seu pai, e os seus rostos estavam virados, de maneira que não viram a nudez do seu pai. / E despertou Noé do seu vinho, e soube o que seu filho menor lhe fizera. / E disse: Maldito seja Canaã; servo dos servos seja aos seus irmãos. / E disse: Bendito seja o SENHOR Deus de Sem; e seja-lhe Canaã por servo. / Alargue Deus a Jafé, e habite nas tendas de Sem; e seja-lhe Canaã por servo. 
(Gênesis 9:22-27)

Agora, o que cazzo está acontecendo aí? Cão vê o pai nu, avisa os irmãos, os irmãos vestem o pai, o pai fica puto sabe-se lá o motivo e amaldiçoa o neto, que nem estava por perto? hein? 

"Ninguém jamais descobriu o que Cão fez a Noé", escreve Alter em seu comentário ao Pentateuco. Versões populares (mas tão extrabíblicas quanto a associação entre Cão e os povos de etnia negra) dão a entender que o filho teria tirado sarro da cara do pai (Noé tinha caído de bêbado), daí o castigo. Mas essa explicação aparece num livro apócrifo, A Caverna de Tesouros, datado do século 6 EC.  

Lendo os versículos com atenção, fica claro que Cão fez alguma coisa com o pai, e alguma coisa que deixou vestígios: "E despertou Noé do seu vinho, e soube o que seu filho menor lhe fizera". O que nos traz ao maravilhoso mundo dos eufemismos sexuais da Bíblia!

O Pentateuco fala muito em sexo e órgãos genitais, só que não o faz de modo explícito. Pênis e vaginas são normalmente chamados de "pés" e "coxas" -- quando Abraão diz ao servo "põe tua mão debaixo de minha coxa", antes de extrair dele um juramento solene, o que ele está dizendo é "jure segurando meu pinto", o que devia ser um tipo de voto especialmente grave. Ainda que, suponho, desconfortável. Ou, de repente, o servo era um cara boa-pinta. Sei lá.

Entre os vários eufemismos usados para descrever o ato sexual -- além do infame "conhecer" -- estava, precisamente, "ver a nudez de". Com esse dado em mente, o trecho "E viu Cão, o pai de Canaã, a nudez do seu pai" ganha uma conotação atroz. 

Trata-se, sem dúvida, de um crime digno das piores maldições, mas ainda não explica por que a praga recairia sobre o neto, Canaã, e não sobre o autor da violação. Uma midrash -- interpretação do texto bíblico feito por eruditos judeus -- sugere que o texto pode encobrir uma castração, como no arquétipo clássico de Zeus e Crono. Assim, se Cão tivesse privado o pai da possibilidade de ter mais filhos, faria sentido (ou, ao menos, o tipo de "sentido" que aparece nesse mitos) Noé amaldiçoar a descendência do autor do crime.

Alter sugere que todo o episódio da maldição pode muito bem encobrir tradições politeístas conhecidas pela audiência original da história, mas que o autor monoteísta não quis descrever por completo. 


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