13 fevereiro, 2013

É no riso que mora a crítica de Chaplin



É NO RISO QUE MORA A CRÍTICA DE CHAPLIN

Cláudio Marinho

Eloquente como diálogos bem construídos. Mais falante e ruidoso do que muitos filmes da fase sonora. Parte do que se convencionou chamar de “cinema mudo” até hoje resiste ao tempo, não como documento histórico da sétima arte, mas por conseguir dialogar com o público contemporâneo. Desta fase criativa, os filmes de Charles Chaplin e o personagem Carlitos justificam o status de ícone de cinema por sua realização precisa, conteúdo temático universal e humor crítico.
O riso é uma das possibilidades mais certeiras de fazer crítica social e política. Charles Chaplin sabia disso, usou deste recurso até incomodar o governo americano, o que acabou resultado em sua expulsão do país. No filme “O Imigrante”, feito em 1917, o personagem Carlitos chega aos Estados Unidos num navio superlotado de pessoas que buscam uma oportunidade. O final é feliz, mas até chegar lá o personagem amarga por ter perdido o contato com a garota por quem se apaixonou no navio, sofre pela falta de dinheiro e as cruedades da recepção aos imigrantes.
As relações de poder aparecem constantemente em “O Imigrante”, até mesmo nas situações mais informais como na cena do restaurante em que Carlitos consegue rever a garota por quem se apaixonou, a convida para comer e logo percebe que não tem dinheiro para pagar a conta. E ele já sabe que os garçons são implacáveis ao punir quem consome sem ter um tostão para o pagamento. O personagem se sente tão incomodado com a situação que é obrigado a fazer coisas absurdas para tentar juntar uma moeda que tem no chão. Com precisão de movimentos e marcação de cenas, o efeito cômico é garantido.
No filme “Rua da Paz”, também produzido em 1917, novamente a questão do poder e as diferenças sociais aparecem no centro da trama. O vagabundo acaba se tornando um policial e precisa colocar ordem na Rua da Paz, dominada por um grandalhão violento. Desajeitado, mas esperto, o personagem não tem tanta convicção de sua autoridade e passa a maior parte do tempo fugindo. Ainda assim consegue alcançar seu objetivo.
A técnica corporal adquirida por Chaplin no teatro garante uma precisão de movimentos útil para a narrativa sem falas. As ações ocorrem no tempo adequado para a “leitura” da cena, da imagem que não somente conta uma história, mas faz isto transmitindo as sensações. É baseado no essencial e na simplicidade que Chaplin alcança uma comunicação eficiente com o público.
Os recursos técnicos, em comparação aos de hoje, podem até parecer limitados. Mas para tudo há compensações: se a câmera fica parada e não é possível fazer zoom, a fotografia compensa com o enquadramento preciso; se não é possível falar, é o olhar do ator em destaque que diz o que se passa na alma; se a montagem não conta com tecnologia avançada que crie ilusões na tela, é a música sempre presente que envolve, cria climas, imprime ritmos diversos.
As tramas são sempre cheias de conflitos, o personagem Carlitos precisa sempre superar obstáculos para alcançar seus objetivos e isto impulsiona as histórias para seu desenvolvimento. Do conflito central que dá base para as histórias é gerada uma tensão dramática que garante o interesse pelo que se vê. Parece básico, mas são estas, entre as outras qualidades citadas, que possibilitam à obra de Chaplin a plena comunicação com o público de várias gerações, até os dias atuais.

De: "Geleia General" noreply@blogger.com
 
LUZES DA CIDADE.