06 fevereiro, 2013

A Carlito – Carlos Drummond de Andrade - Blog Chaplin

A Carlito – Carlos Drummond de Andrade


CharlieChaplin
 
Velho Chaplin:
as crianças do mundo te saúdam.
Não adiantou te esconderes na casa de areia dos setenta anos
refletida no lago suíço.
Nem trocares tua roupa e sapatos heroicos
pela comum indumentária mundial.
Um guri te descobre e diz: Carlito
CARLITO – ressoa o coro em primavera.
Homens apressados estacam. E readquirem-se.
Estavas enrolado neles como bola de gude de quinze cores,
concentração do lúdico infinito.
Pulas intato da algibeira.
Uma gerra e outra guerra não bastaram
para secar em nós a eterna linfa
em que, peixe, modulas teu bailado.
O filme de 16 milímetros entra em casa
por um dia alugado
e com ele a graça de existir
mesmo entre os equívocos, o medo, a solitude mais solita.
Agora é confidencial o teu ensino,
pessoa por pessoa,
ternura por ternura,
e desligado de ti e da rede internacional de cinemas,
o mito cresce.
O mito cresce, Chaplin, a nossos olhos
feridos do pesadelo cotidiano.
O mundo vai acabar pela mão dos homens?
A vida renega a vida?
Não restará ninguém para pregar
o último rabo de papel na túnica do rei?
Ninguém para recordar
que houve pelas estradas um errante poeta desengonçado,
a todos resumindo em seu despojamento?
Perguntas suspensas no céu cortado
de pressentimentos e foguetes
cedem à maior pergunta
que o home dirige às estrelas.
Velho Chaplin, a vida está apenas alvorecendo
e as crianças do mundo te saúdam.

(Em: “Lição de Coisas”, A Carlito, de Carlos Drummond de Andrade, Companhia das Letras, São Paulo. Carlos Drummond de Andrade c Graña Drummond, http://www.carlosdrummond.com.br)
 
De: Blog Chaplin <donotreply@wordpress.com>
Assunto: Daily digest for 06/02/2013
Para:
sulinha3@yahoo.com.br


 
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