29 janeiro, 2013

ETERNO: C.C. BECK (1910-1989)


      Advém da criação da Família Marvel a notoriedade de C.C. Beck - pseudónimo de Charles Clarence Beck - que, no entanto, só postumamente obteve o reconhecimento merecido.

     Charles Clarence Beck nasceu a 8 de junho de 1910 em Zumbrota, no estado norte-americano do Minnesotta. Na sua juventude estudou na Academia de Belas Artes da Universidade do Minnesota, tendo também tirado um curso de ilustração por correspondência. Pouco mais se sabe da sua vida pessoal.
      A sua carreira profissional principiou em 1933, quando Beck se juntou à editora Fawcett Comics, onde trabalhou como ilustrador em vários títulos pulp. Seis anos depois, quando a Fawcett decidiu apostar na publicação de banda desenhada com super-heróis, foi designado para desenhar uma personagem idealizada pelo escritor Bill Parker: Captain Thunder. Contudo, antes que o primeiro número da série Whiz Comics fosse lançado, a personagem em questão foi rebatizada de Captain Marvel. Além das aventuras do Mortal Mais Poderoso da Terra, Beck também ilustrava à época outros dois títulos publicados pela Fawcett: Spy Smasher e Ibis, The Invencible.
   O estilo que Beck imprimiu nas primeiras histórias do Capitão Marvel  serviria de bitola aos seus sucessores à frente da série. Beck privilegiava um traço mais próximo do habitualmente empregue em cartoons. Esse estilo límpido permitia, quer aos seus assistentes quer a outros ilustradores da casa, imitarem facilmente o seu trabalho.
A arte de C.C. Beck marcaria para sempre o visual das histórias do Capitão Marvel.

     Decorrente da crescente popularidade do Capitão Marvel, floresceram vários outros títulos relacionados com o universo do herói. Em consequência disso, Beck teve condições para criar o seu próprio estúdio em Nova York, corria o ano de 1941. Algum tempo depois abriria um segundo, em Nova Jérsia. Ambos os estúdios de Beck forneciam a maior parte do material artístico utilizado nas várias séries que tinham a Família Marvel (Capitão Marvel, Mary Marvel, Capitão Marvel Jr. e um lote de derivados) como protagonistas.
     Durante esse período áureo, Beck assumiu as funções de Diretor de Arte na Fawcett Comics. Cargo que lhe permitiu promover um visual coerente em todas as histórias do Capitão Marvel e restante Família Marvel, assegurando assim que estas se mantinham fiéis ao seu estilo original. Paralelamente à produção de comics, os estúdios dirigidos por Beck também fizeram sucesso na publicidade comercial.
Retrato oficial da Família Marvel pela mão do seu criador.

      Nos primeiros anos da década de 1950, porém, tudo mudaria. Após anos de litigância jurídica devido ao processo movido pela National Comics (antecessora da atual DC) contra a Fawcett, por alegado plágio do Capitão Marvel em relação ao Super-homem, esta última concordaria em cancelar a publicação da sua personagem de charneira. Não terá sido contudo alheia a esta decisão a acentuada quebra de vendas verificada nos títulos da Família Marvel.
      Com a falência da Fawcett, Beck abandonou a indústria dos quadradinhos, dedicando-se durante um curto período de tempo em exclusivo à publicidade. Não obstante, em parceria com o argumentista Otto Binder, Beck ainda apresentou alguns esboços para tiras diárias a serem publicadas num jornal, e que seriam estreladas por Tawky Tawny, um tigre falante com aspeto humanoide. O projeto foi, no entanto, sumariamente rejeitado pelos vários jornais a que a dupla o remeteu. Anos mais tarde, Tawky Tawny seria reabilitado e incorporado no renovado universo do Capitão Marvel, então já propriedade da DC.
Tawky Tawny foi crismado de Senhor Malhado no Brasil.

      Em meados de 1953, Beck mudou-se para Miami onde gerenciou um bar. Apesar de o negócio prosperar, nesse mesmo ano contactou Joe Simon (cocriador do Capitão América), expressando-lhe o seu desejo de regressar à indústria dos comics. Simon, por sua vez, procurava um ilustrador talentoso para desenhar os esboços da nova personagem que pretendia lançar. Dessa sinergia resultou The Silver Spider, com Beck a desenhar uma história escrita por Jack Oleck. Contudo, a personagem não vingaria, tendo sido rejeitada pela Harvey Comics.
      Na esteira de mais esse revés, só em meados da década seguinte Beck se aventuraria novamente a ilustrar banda desenhada. Da sua fugaz colaboração com a igualmente fugaz Milson Publications, resultou a criação de Fatman: the Human Flying Saucer, uma personagem que, em última análise, era o reverso do Capitão Marvel, embora dotada de poderes muito diferentes. Com a revitalização do Mortal Mais Poderoso da Terra operada pela DC, em 1973 Beck mudou-se de armas e bagagens para a antiga concorrente, tendo assumido a arte da neófita série SHAZAM!. Abandonaria, porém,  o projeto ao fim de seis edições, por alegadas divergências criativas com os argumentistas.
      A convite do escritor E. Nelson Bridwell, Beck ainda escreveu uma história intitulada Captain Marvel Battles Evil Incarnate. No entanto, as inúmeras alterações editoriais à mesma, deixaram Beck descontente ao ponto de desistir de desenhá-la.
Criador e criatura reunidos numa caricatura datada de 1975.

      Uma vez aposentado, Beck passou a escrever regularmente uma coluna de opinião para o The Comics Journal. Um dos tópicos recorrentemente abordados eram as suas objeções ao crescente realismo que caracterizava a arte dos quadradinhos, por contraponto ao estilo simples (e até pueril) que sempre cultivara.
      Nos anos que precederam a sua morte, Beck dedicou-se a recriar capas emblemáticas da Idade do Ouro, nas quais figuravam tanto super-heróis, como o Pato Donald e outras personagens da Disney.
      Em abril de 1980, Beck tornou-se o editor do boletim informativo da Fawcett Collectors of America (uma espécie de fanzine que pretendia dar a conhecer o universo da defunta editora). Problemas de saúde ditaram, no entanto, o afastamento de Beck do projeto ao cabo de 19 edições.
      Em resultado de uma insuficiência renal, Beck faleceria no dia 22 de novembro de 1989 em Gainesville, Flórida. Tinha 79 anos.
     No ano seguinte veria reconhecido o seu trabalho ao ser nomeado finalista para o Jack Kirby Hall of Fame, onde teria o seu nome inscrito em 1997. Antes, em 1993, venceu, a título póstumo, o conceituado Prémio Will Esiner (uma espécie de Óscar dos quadradinhos).
     Porquanto para os leigos e para as novas safras de leitores de comics, C.C. Beck permanece ainda um ilustre desconhecido, presto aqui o meu humilde tributo a um criador que, goste-se ou não do seu estilo, merece decerto figurar no panteão dos Eternos.
        
C.C. Beck numa sessão de autógrafos durante uma convenção de BD.


De: FORTALEZA DA SOLIDÃO <noreply@blogger.com>
Assunto: FORTALEZA DA SOLIDÃO
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