26 dezembro, 2012

As limitações de um panfleto de dez dicas para melhorar o planeta

dez-dicas
Às vezes é necessário fazer uma crítica interna, sempre construtiva, dentro do movimento ambientalista, mesmo que se corra o risco de parecer um “fogo amigo”. Tendo em vista essa necessidade, senti que precisei fazer uma crítica construtiva ao modelo “faça essas coisas aqui para ajudar a proteger o meio ambiente de mais devastação”, que a imagem acima, que consta num jornal provavelmente de São José do Rio Preto/SP, exemplifica.
Não considero errada essa abordagem, que tem sua utilidade e importância a partir dos meios de onde é promovida – já que noticiários online ou impressos, que promovem comunicação numa via de mão única, não podem promover uma Educação Ambiental que Paulo Freire denomina “problematizadora”. Mas vejo na grande maioria de panfletagens do tipo duas limitações severas, que se tratam da omissão dos dois que seriam os itens mais importantes dentre os exibidos.
O primeiro desses itens omitidos é: Politize sua preocupação ambiental. Pouco adianta promover um ambientalismo individualista se ele, restringindo-se a ações individuais e domésticas, é incapaz de incitar que se questione politicamente as “forças superiores” que determinam que nossa sociedade seja tão ambientalmente nociva, como:
- a cultura de valorização cultural e econômica do agronegócio desmatador,
- as políticas públicas que privilegiam esse agronegócio e subvalorizam a agricultura familiar e orgânica,
- o conservadorismo ambiental ruralista na política brasileira,
- o consumismo e os frenéticos apelos publicitários ao mesmo,
- o objetivo do capitalismo de promover o crescimento econômico infinito,
- o desenvolvimentismo industrialista sem responsabilidade ambiental que polui e joga complexos industriais e usinas de energia em cima de ecossistemas,
- as irresponsáveis políticas públicas de incentivo à compra e uso do carro,
- a falta de políticas públicas de incentivo ao uso da bicicleta,
- a ação de lobbies de setores industriais de pesado impacto ambiental,
entre outras. São ações que nenhuma ação individual pode sequer arranhar e demandam de fato um engajamento de ativismo político e coletivo, que enfrente essas “forças superiores” que impedem que nossa sociedade se torne sustentável.
O segundo grande item omitido é: Seja vegano. O veganismo pode fazer pelo meio ambiente muito mais do que a maioria dos dez itens elencados na imagem acima. Isso porque a pecuária e a pesca são duas das atividades econômicas que mais degradam o meio ambiente (a pecuária é, pelo conjunto da obra, a mais degradante dentre todas as atividades existentes, mais até que a geração e consumo de energia). Parar de consumir produtos, alimentícios ou não, de origem animal pode promover benefícios que vão além de qualquer uso de ecobags, economia doméstica de água ou mesmo evitação de consumir a gasolina do carro. Isso não elimina a necessidade das outras providências, mas é possível dizer que, ao lado do veganismo, os dez itens da imagem se tornam meramente complementares, ainda que essenciais, tamanha que é a redução da pegada ecológica proporcionada pelo veganismo.
Há também a limitação, por sua vez insuperável pelos meios convencionais e unilaterais de comunicação, de não se compreender o que leva as pessoas a, por exemplo, não consumir tantos produtos biodegradáveis, não (poder) plantar árvores, continuar usando e abusando das sacolas plásticas ou precisar usar o carro numa regularidade que seria desnecessária numa cidade de bons transporte público e inclusão ciclística – e por isso não ser possível fornecer recomendações de soluções personalizadas de como agir doméstica ou coletivamente por uma vida sustentável e uma pegada ecológica mínima.
Por exemplo, muitas pessoas não têm onde plantar árvores, nem mesmo em praças, por motivos como não ter parentes próximos morando fora de ambientes densamente urbanos e morar num lugar onde a falta de consciência ambiental leva crianças e jovens a arrancar mudas de árvores que estavam plantadas na praça ao lado da casa. Ou então, a ausência de coleta seletiva pública e de divulgação de cooperativas locais de catadores leva bairros inteiros a continuar jogando lixos sem nenhuma separação – e desperdiçando valiosos volumes de matérias-primas recicláveis.
A importância desses panfletos é notória, mas é limitada. Não devemos nunca preterir a importância e necessidade de se partir para a ação sociopolítica e aderir ao veganismo e ao ativismo abolicionista como formas de se almejar uma civilização sustentável e mais justa. Afinal de contas, pouco adianta plantar algumas árvores na praça quando comemos um pedaço de carne cuja produção demandou a derrubada de centenas de outras árvores ou permitimos que o lobby latifundiário continue impedindo ou retrocedendo leis de proteção ambiental.
 
 
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