24 fevereiro, 2012

O legado do homem que criou o país do futuro



Austríaco e judeu, o escritor Stefan Zweig escolheu o Brasil para, longe do nazismo, poder dedicar-se à sua obra. Há 70 anos, em plena Segunda Guerra, ele e a mulher suicidavam-se em sua casa, em Petrópolis. No auge da Segunda Guerra Mundial, em 22 de fevereiro de 1942, há 70 anos completados ontem, Stepfan Zweig, escritor austríaco e judeu, escreveu uma carta atualmente guardada na Biblioteca Nacional de Israel. Chamada de Declaração, ela é de despedida. Zweig, ao lado da mulher Charlotte, foi encontrado morto na cama do casal na cidade que eles escolheram para fugir do nazismo na Europa – Petrópolis, no Estado do Rio de Janeiro.

"Antes de deixar a vida, de livre vontade e juízo perfeito, uma última obrigação se me impõe: agradecer do mais íntimo a este maravilhoso país, o Brasil, que propiciou a mim e à minha obra tão boa e hospitaleira guarida. A cada dia fui aprendendo a amar mais e mais este país, e em nenhum outro lugar eu poderia ter reconstruído por completo a minha vida, justo quando o mundo de minha própria língua se acabou para mim e meu lar espiritual, a Europa, se auto-aniquila", começa a carta, em português.

Segundo o jornal Times of Israel, Zweig, mais que austríaco ou judeu, considerava-se um "cidadão da Europa". Famoso por seus romances, peças e poemas, o escritor começou sua carreira sob as asas do jornalista e roteirista Theodor Herzl, cujo trabalho ele admirava. Zweig, porém, discordava de alguns dos ideais do homem que fundou o movimento do moderno sionismo político. Para o escritor, o judaísmo ensinou que ele poderia se sentir em casa em qualquer lugar do mundo.

Forçado a fugir da crescente ferocidade dos sentimentos nacionalistas que tanto detestava, Zweig descobriu que não se sentiria realmente em casa em lugar algum. Ele e Lotte deixaram Salzburg para trás, fazendo uma parada na Grã-Bretanha e outra nos Estados Unidos antes de finalmente chegarem no Brasil, em agosto de 1940. Aqui, ele contemplou o exílio e a perda da Europa que ele chamava – e também é o título de seu livro de memórias – de O Mundo de Ontem.

À frente de seu tempo – Para Stefan Litt, da Biblioteca Nacional de Israel, Zweig reuniu alguns dos melhores valores básicos, como o humanismo e o pacifismo. "Ele estava acima de qualquer nacionalismo. Era um homem diversas décadas à frente de seu tempo quando acreditou e pediu por uma Europa unificada."

No dia seguinte à morte do casal, em razão de uma "alta dose de barbitúricos", o Jornal do Brasil trazia a notícia: "Morre tragicamente um dos maiores escritores contemporâneos – Stefan Zweig e sua esposa suicidaram-se em Petrópolis na tarde de ontem."

Conspiração – Autor do livro Brasil, país do futuro (um retrato do Brasil e uma interpretação do espírito brasileiro), Zweig continua tendo uma legião de fãs. Alguns acreditam em uma teoria da conspiração que diz que o casal foi assassinado. O psicólogo e advogado brasileiro Jacob Pinheiro Goldberg, de acordo com uma reportagem da revista Veja, chegou a requerer em 1999 a reabertura do inquérito Zweig. "Os nazistas, em colaboração com a polícia política de (Getúlio) Vargas, provocaram a morte do escritor e de sua mulher."

No imóvel onde o suicídio aconteceu funciona hoje uma entidade cultural de direito privado, sem fins lucrativos. Segundo o site da organização, "seu principal objetivo é homenagear a memória de Stefan Zweig na casa que serviu de última morada para o escritor e sua mulher". A reforma da Casa Stefan Zweig foi orçada em R$ 600 mil e recebeu um patrocínio do governo alemão no valor de R$ 140 mil. A iniciativa, presidida pelo jornalista Alberto Dines, deveria ter sido aberta em agosto passado.


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